“A escrita [do Vale das ameixas] é fluida, e as referências intertextuais acrescentam profundidade ao texto e consistência às diversas vozes que se cruzam o tempo todo no tecido narrativo, que é um verdadeiro mosaico de experiências ficcionais, históricas, individuais e mesmo psíquicas.
O relato íntimo divide espaço com a reflexão, o que confere um efeito de simultaneidade aos enunciadores (cada qual dotado de natureza própria), cujos discursos compõem uma emaranhado de reminiscências ficcionais, porém plausíveis, nas quais reverberam ecos da história recente do mundo e do Brasil, mas também das expectativas de algumas gerações que sonharam, acertaram e erraram – que, porém, não se abstiveram em face do vida real (tão cheia de promessas, conquistas pessoais e frustrações) e da história real (tão cheia de utopias, algumas glórias e muitas derrotas).
Em torno de Harley Tymozwski, orbita um sistema de vozes que, como a do próprio Timo, oscilam, mas nunca fora do possível, o que confere muita sugestão e, ainda mais, ambiguidade aos personagens, uma vez que o possível não é o certo. Tudo que está nas notas do professor pode ter sido tal e qual, mais ou menos ou mesmo nem ter sido. Mas, aqui, isso é o que menos importa, porque a vida transita nessas vozes na forma de signos encadeados como o sangue pulsa por artérias e veias na forma de fluxo: invisível, mas sensível e inegável.”
(Jeosafá Fernandez Gonçalves, doutor em Letras pela USP, escritor e professor. Tem dezenas de livros publicados, entre eles Carolina Maria de Jesus: uma biografia romanceada e O jovem Mandela.)
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