“Empreguei meus sábado e domingo (28 e 29/12) para ler o seu A Voz dos Sinos.
Em que pese ser um ensaio longo, foi uma leitura agradável, pois sua escrita mantém-se felizmente longe dos vícios do jargão acadêmico, que o jornalista Raimundo Pereira chamava de o “modo difícil de falar coisas simples”. Isso se deve, certamente, a seu ofício de romancista, que entrou como mediador entre a teoria e o leitor.
Enquanto lia, lembrava do tempo em que, por um ano, fiz o curso da professora Sandra Nitrini, durante o doutorado na USP, o qual concluí com um ensaio sobre Avalovara. Esse ensaio, como outros muitos livros, ficou pelo caminho, mercê de minhas mudanças de endereço nos últimos três anos. Procurei-o entre os poucos objetos de minha exígua bagagem para Rio, mas, definitivamente, se perdeu.
Seu ensaio é um roteiro excelente a quem deseje, sem ser especialista, ir além da leitura superficial da obra de Osman Lins. Um roteiro, mas também um mapa de temas, enigmas e motivos que permeiam os escritos desse autor, cuja importância mais cresce, quanto mais o tempo avança e pesquisas, como a sua, lhe vão engrossando a já alentada fortuna crítica.
A lente panorâmica que empregou para o estudo não dispensou, em momentos oportunos, o mergulho mais fundo em alguns aspectos, sem jamais cometer a indelicadeza de revelar para o leitor os segredos que cabe a ele, e só a ele, desvendar no texto concreto de cada narrativa analisada.
Esse discernimento de até onde deve ir o teórico de letras e a partir de onde passa a ser responsabilidade do leitor literário extrair juízos a partir de sua própria a leitura, mais do que um convite à visitação das obras de Osman Lins, é alerta oportuno de que a leitura de análises críticas, por melhor que sejam, não substitui jamais a leitura da obra em si.
Assim, as referências que você faz, tanto às obras do autor analisado, quanto às fontes de intertextualidade dos textos dele, possibilitam ao leitor do ensaio o cotejamento e, por conseguinte, a oportunidade de, comparando um e outro, extrair seus próprios juízos.
Disso resulta que suas análises se mostram flexíveis, pois não são peremptórias e abrem espaço à possibilidade de matização e mesmo objeção do leitor, livre para levantar suas próprias hipóteses concordantes, concordantes em parte e mesmo discordantes, a partir dos materiais que você oferece, sejam eles suas próprias reflexões, excertos da obra de Osman Lins, trechos bíblicos, ou ainda citações de pesquisadores e críticos.
Obrigado pelo envio do volume que, verdadeiramente, coloriu minhas leituras deste dezembro de temperatura agradável e de vento constante na Cidade Maravilhosa.”
(Jeosafá Fernandez Gonçalves, doutor em Letras pela USP, escritor e professor. Tem dezenas de livros publicados, entre eles O espelho de Machado de Assis em HQ, Poesia na Escola e O jovem Mandela.)
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