“Aprendi que a melhor resposta para os arroubos de Laura é o silêncio. Fica inquieta, e logo reaparece, mas desta vez foi diferente. Nada de telegrama nem carta durante meses e meses. Dona Benedita estranhou. O que será que aconteceu? Será que ela morreu? Vire essa boca pra lá… Ela pode ter perdido meu endereço. Ôxe, já deve saber de cor até. Por sorte Bóris pede companhia, dona Benedita acode. Ele está com fome e não se alimenta sem alguém perto. Manha que trouxe da fábrica, paparicado que era, ficou careca de tanto ser paparicado. Vi pela cortina entreaberta que o carteiro ia tocar a campainha, deu tempo de fazer sinal para ele. Abri a porta, assinei o recibo. Sim, Laura. Carta registrada. Uma carta de sete metros de comprimento e meio de largura.”
(H.A., Vale das ameixas.)