A brisa/Certos casais

“O casamento de Tã deixou a casa vazia, sem ar, sem luz. Passei a ter mais tempo para mim e para o César. Para mim e para Palmira. Ele seguia me vigiando, eu não lhe dava trégua. Ela me levava sob vigilância. Um dia ouvi uma voz desconhecida, nítida, sussurrante: “Louco, sua mão me queima”. Acordei. Procurei César na casa toda. Estava sentado num canto da cozinha, olhos abertos, ferrados num ponto, longe, nem me viu. Não tive compaixão. Ela devia ter saído naquela hora. Voltei para a cama e chorei. Não posso mais confiar nele. Numa noite de insônia, fui para a cozinha, sem fazer nenhum barulho. Antes, liguei a TV na sala e desliguei logo, passava uma bobagem qualquer. Ela chegou, me viu sentado no chão, não disse nada. Voltou para o quarto. Só penso nela. Tâmara.”


(H.A., “A brisa na varanda”, Certos casais.)