Vale das ameixas/Sereias

“Volto às Sereias porque outras mulheres bailam na minha memória. Sim, A dança, de Matisse. O mesmo movimento, o mesmo giro no sentido horário. Henri Matisse e Teofil Kwiatkowski sonharam o mesmo sonho perdido no tempo: As três graças. Bailando, à destra roda, sobre a via, vinham as três damas. Não vamos esquecer das Náiades, do poeta e pintor (polonês, claro) Kamil Norwid, 1848. Estudou pintura na Itália. Sempre atrás do sonho. Nos dois anos em que viveu nos Estados Unidos, foi desenhista. O que lhe dava pão e agasalho, no entanto, era o trabalho como lenhador. Norwid morreu esquecido em Paris, num asilo de imigrantes pobres. Procurar, no infinito, quem foi o primeiro, é ingenuidade e tolice. No caminho, o pintor e ceramista italiano Luca Della Robbia, nascido cem anos antes da descoberta do Brasil, com o baixo-relevo Ronda de crianças, Coro ou Cantorias. Impossível saber quem inventou a roda. E de que valeria saber? Tudo sempre girou.”


(H.A., Vale das ameixas.)