“Na volta de uma visita à avó de Eni (‘devo muito a ela, mãe’) no hospital, Níobe encontrou um bebê chorando no banco traseiro do Volks. Foi a primeira vez que saiu dirigindo sozinha, quatro dias após tirar a carteira de habilitação, à revelia de Carvalho. O marido não usava mais o carro e ela não achava justo ele ficar parado na garagem. Frequentou a autoescola escondida durante dois meses, perdeu o primeiro exame por descuido e nervosismo e, no último sábado, saiu do Detran alegre com a aprovação. ‘Por que fui deixar o carro aberto, mãe? Deus escreveu assim.’ O que fazer com a criança? A dúvida: levar ou não levar? Não seria melhor devolver ao hospital? Será que ela fora ‘escolhida’ como mãe adotiva? Níobe ficou olhando o bebê sem conseguir resolver o seu destino.”
(H.A., Mil corações solitários.)