Vale das ameixas/diálogo

“Volto a visitar meu pai depois de longo intervalo. Tivemos uma conversa difícil. Fiz a pergunta que sempre quis. Por que o senhor nos deixou? Por que, pai? Ela que foi embora, e o culpado sou eu? Depois o diálogo tornou-se quase monossilábico, ele sempre reservado, embora tenha se esforçado no início para parecer jovial. Em certo momento, olhei nos seus olhos brancos – quem não viaja na família, poeta? E quis gritar Parla! Sei que minha voz bateria em pedra, como o martelo de Michelangelo nos pés (ou no joelho?) de Moisés para sempre perfeito, eloquente, mudo. Não falamos nada sobre a morte de mamãe.”


(H.A., Vale das ameixas.)