“A que nos referimos quando falamos da forma de uma história? Referimo-nos em primeiro lugar à sua estrutura, isto é, ao desenvolvimento da narração; à escolha desta ou daquela linha, à escolha das personagens e ao uso que o autor delas faz, à sua interação, aos diferentes temas, às linhas temática e à sua intersecção nos diversos movimentos que o autor introduz na ação para produzir este ou aquele efeito direto ou indireto, assim como à preparação de efeitos e impressões. Numa palavra, referimo-nos ao esquema da obra de arte. Isto é a estrutura.
Outro aspecto da forma é o estilo, isto é, o modo de funcionamento da estrutura; através do estilo, vemos as peculiaridades do autor, os seus maneirismos, os seus inúmeros e particulares truques. Se o seu estilo é vívido, veremos o tipo de imagens que evoca, as descrições que utiliza, o modo como progride; e se emprega comparações, veremos como usa e varia os recursos retóricos da metáfora e do símile, e as suas diferentes combinações. O efeito do estilo é a chave da literatura: é uma chave mágica para entender Dickens, Gógol, Flaubert, Tolstoi e todos nos grandes mestres. Forma (estrutura e estilo) = Assunto: o porquê e o como = o quê.”
(Vladimir Nabokov, Aulas de literatura.)