Migrações/guerras

“Mapa, minha terra cravada no peito.

As migrações não cessam. Hoje, bem diferentes das de minha época, e de décadas anteriores. Sobre o globo, apenas algumas rotas, traços longos, definidos, poucos destinos, fugíamos da guerra, da fome. Agora, um emaranhado de riscos cruzados, sobrepostos, tortuosos. Lembram espaguete, miojo. Destinos difusos, voláteis – vida provisória, poucos em busca de nova e permanente pátria. Vaivém, gente igual a dinheiro. Levas de estudantes, trabalhadores, executivos enviados para coisa ou outra, vassalos da emergência. Todos longe de si mesmos. Folgo em ter casa, Loria, o meu canto, Lublin dentro de mim.

Verdade, Núbia. Antes o mundo girava. Agora giram o mundo

Sim, impossível fechar os olhos, ainda há guerras e guerras, famílias destroçadas, covas rasas e mutilados, crianças sem pais nem país, milhares sem chão nem identidade cultural ou psíquica. Ilegais aqui e acolá. Presos e deportados. O homem segue louco, vil, voraz, um sorvo.”


(Harley/Timo, personagem de Vale das ameixas, de H.A.)