“Observando Vicente, meu barbeiro, no ofício há mais de vinte anos, amolar a navalha na correia, pergunto em quanto tempo aprendeu a fazê-lo.
– Dez anos.
– Com sete ou oito, ainda não sabia?
– Não, e alguns barbeiros não aprendem nunca.
– Como é que você sabe que a navalha pegou o fio?
– Sinto na mão. Mesmo de olhos fechados.
Amolar navalhas, então, evoca a arte de escrever: pelo que exige do praticante, em exercício e paciência; e pelo modo como o fio se revela, tão semelhante à maneira como o escritor, amolando sua frase, percebe (também na mão?) ter alcançado o que busca.”
(Osman Lins, A rainha dos cárceres da Grécia.)