“Mamãe,
Eu te amo.
Levei quase meia hora com o bloco na mesa, não conseguia começar. A gente demora para perceber o lógico, não? Te amo, mamãe, te amo, te amo, te amo. Ainda vou escrever uma carta sem fim sobre isso. Não agora. Hoje falo de hoje. Uma forte presença da senhora me invadiu, presença quase física, coisa absurda na intensidade, era como se a senhora estivesse aqui perto. Verdade. Deve ser saudade, uma saudade que me deixou meio tonto quando saí pela rua, sonho de te encontrar. Veio uma coisa indescritível, densa e suave, como se você (acho melhor te chamar de você, assim me sinto mais próximo e mais filho) tivesse se transformado numa onda de ar e voou por aqui, pelo meu canto, pela cidade. É, mamãe, hoje senti você pertinho, bem pertinho. Fiquei tonto, tonto de quase flutuar, aquela tontura de saudade ou felicidade que a gente sente quando sabe que vai ver, daqui a pouco, alguém muito querido.”
(René, personagem de Mil corações solitários, de H.A.)