Combate ao tráfico/Zuenir

“Enquanto dos morros só se ouviam os sons do samba, parecia não haver problema. Mas agora se ouvem os tiros. Não se trata de uma guerra civil, como às vezes se pensa, mas de uma guerra pós-moderna, econômica, que depende das artes bélicas mas também das leis do mercado, é um tipo de comércio. Por isso não há solução mágica à vista. Sabe-se que é preciso destruir as ‘vanguardas’ – os que praticam barbaridades, os traficantes de drogas – numa operação de força implacável. Exterminá-los, porém, talvez seja mais fácil do que desmontar o circuito econômico que os sustenta e cujas pontas – a produção e o consumo – não estão nas favelas.

A experiência relatada neste livro mostra que nenhuma operação de força fará sentido se a expulsão da minoria delinquente não se fizer acompanhar de uma ação de cidadania que incorpore socialmente a massa de excluídos do império – no caso, da república. Será uma questão de distribuição: justiça social para muitos.”

           

(Zuenir Ventura, Cidade partida.)