(Celia Demarchi, jornalista, São Paulo.)“‘Ou se mergulha naquilo, ou larga de vez’, Hugo escreve logo no começo, que também faz referência ao fim de Mil corações solitários, desde o título do primeiro capítulo (‘É o fim’). Esse recurso lembra de certo modo a técnica jornalística, em que se procura resumir a história em duas ou três frases iniciais precisas e atrativas para conclui-la voltando-se ao começo, num movimento circular. O meio, que esconde o ‘segredo’, se compõe das vozes sem eco dos corações solitários, oprimidos. Como se a vida mesma só pudesse existir individualmente, dividida em seres independentes uns dos outros. A libertação do ‘cárcere’ só aconteceria com a morte do opressor. A linha temporal em que as personagens transitam não por acaso coincide com o período mais macabro da história recente do país, que, mesmo em meio à abertura política, continuou fazendo vítimas. Pelo menos uma das personagens, Ana, não conseguiu transpor o portal. Mas Mil corações solitários também faz rir em passagens até sarcásticas, como a que reproduz suposta notícia de jornal: ‘Coca-cola mata bebê’, frase que se refere a um acidente doméstico, mas que imediatamente nos leva a pensar nos riscos à saúde associados ao refrigerante.”
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