Frases e trechos de livros de Hugo Almeida
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“Mamãe Querida,
Só tenho eu mesma e a Senhora para cuidar do meu filho que vai nascer em maio. Descobri isso com muita tristeza. Não que ele vai nascer em maio, acho até um mês bonito, mês das noivas e das mães. É tristeza de não ter ninguém aqui para me ajudar. O Carvalho nem conto mais porque ele parece que não entende de mulher grávida nem de bebê.”
(Níobe, personagem de Mil corações solitários, de H.A., que terá a 4ª edição publicada pela Sinete em julho. O romance está em pré-venda. Clique aqui para saber mais.) -
“O fiel e a pedra, de Osman Lins (O Nordeste de 30 entre a tradição clássica e o romance moderno) reúne argutos ensaios inéditos de quatorze osmanianos de diferentes gerações e regiões do Brasil e uma osmaniana da Argentina, e confirma o que afirmou o escritor há mais de 40 anos [“A Divina comédia, hoje, é o poema de Dante e tudo o que se escreveu sobre ele. Um grande texto, assim, é algo que não cessa de crescer” ]. Pela diversidade das abordagens, esses estudos provam também que um texto literário é inesgotável, como afirmou o narrador de A rainha dos cárceres da Grécia.”
(H.A., no prefácio do volume de ensaios citado, organizado por Sandra Nitrini.) -
“Estou feito uma boba, aqui sozinha com essa folha em branco na mão. Ah, eu queria te mandar em branco mesmo, acho que você ia entender muito bem. […] Agora, o texto, vai assim, meu querido, vai assim mesmo, isso é tudo: ‘Te amo. Volte logo. Bárbara’.”
(H.A., “Telegrama”, Globo da morte.) -
“Volto a visitar meu pai depois de longo intervalo. Tivemos uma conversa difícil. Fiz a pergunta que sempre quis. Por que o senhor nos deixou? Por que, pai? Ela que foi embora, e o culpado sou eu? Depois o diálogo tornou-se quase monossilábico, ele sempre reservado, embora tenha se esforçado no início para parecer jovial. Em certo momento, olhei nos seus olhos brancos – quem não viaja na família, poeta? E quis gritar Parla! Sei que minha voz bateria em pedra, como o martelo de Michelangelo nos pés (ou no joelho?) de Moisés para sempre perfeito, eloquente, mudo. Não falamos nada sobre a morte de mamãe.”
(H.A., Vale das ameixas.) -
“Agora é você com você, e o resto não existe. Exceto Laura. Embora não tivesse mais notícias dela. […] Não esqueceria também da Éden, ah, nunca. Minha professora mais que do Túlio, agora crescido, se resolve sozinho. Também não esqueceria jamais a Núbia, a forte e determinada Núbia de meus sonhos pós-Laço de Fita, laço desfeito. Não mais nenhum controle das paixões. […] Laís, ah, Laís e o seio pequenino, ai, me caberia inteiro na boca, oh, Laís, meu sonho, meu pecado; Piedade, a fiel Alzira; Léa, Léa do meu devaneio, outras – quantas? –, anônimas, todas as mulheres são irmãs ou namoradas, e Loren, Loren bailando na minha alma, minha febre, meu amor no tempo de madureza. Há que amar e calar. A casa é pequena, mas tudo em mim é enorme. Uma sede insaciável.”
(H.A., Vale das ameixas.) -
“Então tudo fica escuro e a família adormece. Pela manhã cedinho o menino menor caminha seis quilômetros para estudar. Pouco depois do meio-dia ele retorna, sol ou chuva, sorriso e face corada. Sim, está certo, Deus não existe, mas o mundo é divino.”
(H.A., “Como beija-flor”, Em teu seio Liberdade.) -
“Chegou a falar sobre mim, sobre nós, com a mãe, antes da igreja. Meu Deus! (Incalculável mulher.) E ela? Conversamos sobre tudo, tudo. Eu estava confusa, você… você pra mim? Sonho. Ainda é. Impossível. Meu professor. E a diferença… Doze anos é muito? Eu era tão jovem. Minha mãe me disse que eu resolvesse, que pensasse no futuro, eu poderia virar dona de casa para sempre. Comigo ou com ele? Sorriso que não decifro.”
(H.A., Vale das ameixas.) -
“Em silêncio caminhamos, atamos ou tentamos desatar velhos laços, elos, incêndios. Olho seus lábios – foram três ou quatro beijos?, desvio o olho para os seios, encobertos, pássaros felizes, mangas maduras, nunca, nunca. Que belo vestido. Atrás, o impossível repousa. Você continua o mesmo. Ninguém me olha assim, nunca olhou, leio o que pensa e cala. Mas não entendo você. Sei que desse olhar amoroso não haverá colheita. Enigmas de Laura, as crianças correm, felizes, inocentes, ficamos a sós na alameda sombria. Ainda há chama. O tempo não me protege contra os tiros do amor. Que força tem o meu freio?”
(H.A., Vale das ameixas.)