Comentários de leitores de H. A.
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“Comecei a leitura [do Vale das ameixas]. Os olhos não me ajudam e o cérebro me arma ciladas, embaralha nomes. Nada que me impeça, porém, de me encantar com a poesia que há em cada frase. O livro pode ser aberto em qualquer página, ao acaso. Independentemente da trama ou da situação, há em todas um brilho inequívoco de ouro, do melhor ouro que a literatura pode produzir. Aquele ouro que você vem garimpando há tanto tempo. Você é um exemplo de coerência. Não há nenhum passo dado aleatoriamente. Tudo construído com rigor. Pura arquitetura. Assim como o Dalton, você tem sido Hugo desde sempre. O melhor existe em você porque houve o bom. Valeu a pena, valeu tudo. Espero ter tempo de usufruir esse tesouro. Agradeço-lhe, como haverão de lhe agradecer os leitores que estiverem preparados para tanta beleza.”
(Raul Drewnick, escritor e jornalista, autor de dezenas de livros, principalmente infantojuvenis, entre eles Veneno lento (FDT), O goleiro fantasma (Lazuli) e vários da Coleção Vaga-Lume, da Ática, como A hora da decisão, Vencer ou vencer, A grande virada e Um inimigo em cada esquina. ) -
“A escrita [do Vale das ameixas] é fluida, e as referências intertextuais acrescentam profundidade ao texto e consistência às diversas vozes que se cruzam o tempo todo no tecido narrativo, que é um verdadeiro mosaico de experiências ficcionais, históricas, individuais e mesmo psíquicas.
O relato íntimo divide espaço com a reflexão, o que confere um efeito de simultaneidade aos enunciadores (cada qual dotado de natureza própria), cujos discursos compõem uma emaranhado de reminiscências ficcionais, porém plausíveis, nas quais reverberam ecos da história recente do mundo e do Brasil, mas também das expectativas de algumas gerações que sonharam, acertaram e erraram – que, porém, não se abstiveram em face do vida real (tão cheia de promessas, conquistas pessoais e frustrações) e da história real (tão cheia de utopias, algumas glórias e muitas derrotas).
Em torno de Harley Tymozwski, orbita um sistema de vozes que, como a do próprio Timo, oscilam, mas nunca fora do possível, o que confere muita sugestão e, ainda mais, ambiguidade aos personagens, uma vez que o possível não é o certo. Tudo que está nas notas do professor pode ter sido tal e qual, mais ou menos ou mesmo nem ter sido. Mas, aqui, isso é o que menos importa, porque a vida transita nessas vozes na forma de signos encadeados como o sangue pulsa por artérias e veias na forma de fluxo: invisível, mas sensível e inegável.”
(Jeosafá Fernandez Gonçalves, doutor em Letras pela USP, escritor e professor. Tem dezenas de livros publicados, entre eles Carolina Maria de Jesus: uma biografia romanceada e O jovem Mandela.) -
“Vale das ameixas é muito gostoso de ler. O leitor não fica correndo para ver o final. Não, o leitor vai se divertindo com o dia a dia desse “inocente” polonês no Brasil. Tranquilo como certos personagens do Cerrado. Mas que às vezes promove suas trapalhadas também. Nada é por mal. Ele é um bom sujeito, amante das mulheres. “
(Jair Nascimento Filho, engenheiro mecânico, professor aposentado da Escola de Engenharia da UFMG. Filho de Albertina de Sá, autora de Voos no Cerrado, organizado por H.A.) -
“Terminei ontem à noite (23/07/2024) de embalar em minhas mãos (e no meu colo) o seu mais recente filho [o romance Vale das ameixas]. Gostei bastantão dele: nasceu bonito e cheio de saúde, pronto para desafiar o leitor. Livro portentoso, riquíssimo em informações e referências culturais/históricas, com momentos pungentes, muito humanos. E você está dominando como nunca o nosso idioma, deitando e rolando. Enfim, o seu livro permite várias leituras e remontagens, já que se compõe de “peças” aparentemente distintas. Podemos embaralhá-las ao bel prazer em nossa cabeça e nossa alma.”
(Jaime Pereira da Silva, jornalista, São Paulo-SP) -
“Recebi o seu livro [Vale das ameixas], muito obrigada. Eu o li em uma semana. A sua cultura sobre a literatura brasileira e mundial não foi surpresa para mim. Sempre soube você uma pessoa culta. Me surpreendeu a história em si, seus personagens e seu conhecimento e afeto pela Polônia. Gostaria de saber mais, fiquei curiosa.
O personagem Harley, que ficamos conhecendo mais pelas falas e pensamentos das suas amadas, me pareceu um ser misterioso, um homem de várias camadas (expressão da atualidade). Gosto de pessoas com um pouco de mistério. Dona Benedita é uma sábia, coração cheio de generosidade, uma fofa!!! Adorei!!!
Das mulheres a que mais ficou na minha cabeça foi a Laís. Quantas Laíses, lindas, idealistas, cultas, jovens e crédulas perdemos nos tempos sombrios de nossa história recente, que testemunhamos. Que tristeza. O livro tem um misto de ceticismo e esperança, muito afeto e disposição para o amor, ou espaço para o sensível, sem pieguismos. Hugo, adorei seu livro. Que surpresa maravilhosa.
(Dilma Celi Pena, ex-secretária de Estado de Saneamento e Energia de São Paulo, de quem o escritor foi assessor de imprensa de 2007 a 2010.) -
“Confesso que tive alguma dificuldade na leitura de Vale das ameixas, precisei retornar às páginas anteriores com frequência para fixar quem é quem entre tantas personagens, em meio a uma narrativa sem linearidade, em que as lembranças do protagonista são apresentadas do modo como elas vêm à mente das pessoas. Além disso, todas as personagens são também narradoras, enquanto dialogam com o protagonista por meio de cartas e na própria narrativa dele. É um jeito engenhoso de contar, mas nada simples de acompanhar. É preciso bastante atenção até para aproveitar as deliciosas informações, por exemplo, sobre o mundo da literatura. Adorei em especial as passagens sobre Manuel Bandeira, uma aula de literatura, Einstein simplificando o ser humano mediante Kafka e a mensagem inteligente e irônica de Freud à Gestapo. Ri nessas e em várias outras passagens do livro.
Vi a obra como as memórias de um professor culto que é também um homem comum, ou vice-versa, talvez com mais defeitos do que qualidades, mas que ainda assim desperta simpatia. As amantes me pareceram invenções, ficção dentro da ficção, pela continuidade improvável dos casos ao longo dos anos. Amanda é talvez a mais real delas.
Penso que a obra busca celebrar o amor, contra as guerras. A questão (kafkiana? o Brasil é kafkiano, acho) da aposentadoria percebi como a crítica social de mais relevo, quase uma guerra entre as guerras literais (uma, a de guerrilha) a que o livro se refere. Enfim, gostei bastante. E assumi a missão de ler A rainha dos cárceres da Grécia, de Osman Lins.
Fiquei com uma dúvida ao fim da leitura: haveria uma passagem sobre Núbia mostrando que ela tem uma filha adotiva também e morou com as filhas em uma praia onde uma delas passou por um grande perigo? Procurei esse trecho em uma releitura “vertical”, e não encontrei. Acho que o inventei ou trouxe de outras leituras e “colei” em Núbia (combina com ela). Será que existe mais essa história dentro da história?
Boa sorte ao Vale das ameixas, espero que alcance o merecido reconhecimento.”
(Celia Demarchi, jornalista, amiga do escritor. ) -
“Hugo Almeida criou algo ambicioso. Vale das ameixas me fez sentir é que estamos exatamente ante uma busca holística da narrativa. O narrador (um deles, pois o livro é polifônico) pode, realmente, citar de cátedra o grande Borges quando diz que “o tempo é um rio que me arrasta, mas eu sou o rio; é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo”. Grande personagem, também, é a dona Benedita – eterna e fiel empregada do velho polonês Harley – dupla extremamente humana.”
(W. J. Solha, escritor, artista plástico e ator paulista radicado em João Pessoa.)