Corações solidários

Comentários de leitores de H. A.

  • “O personagem masculino preponderante e senhor do Vale é Harley Tymozwski, ou Timo (o leitor que descubra as origens e os significados do apelido, para além do sobrenome). Polonês de origem, professor – rico daquele machismo bíblico, ainda hoje tão difícil de se desintegrar –, Timo vai ressignificar a própria vida em pendência a todas as mulheres por que ‘passou’ (ex-alunas, professora, bailarina, psicóloga etc. etc.). Um homem sedutor, senhor de conquistas indeléveis. […] Para o narrador-mor, aqui também, as mulheres serão mestras de vida e serão vozes (às vezes em cartas) da narração. Dos seios delas, fetiche de Harley, mimetizam-se as ameixas do Vale (a propósito, nos dicionários de símbolos, a fruta ameixa está associada ao órgão sexual feminino e ao prazer carnal). Elas serão emblema do leite metafórico de quando Timo já não pode mais se alimentar do materno. Considere-se também, a título de informação, que a Polônia é grande produtora e exportadora de ameixas.”

    (Alexandra d’Orsi, “Vale das ameixas, à sombra dos seios em flor”, revista digital Triplov.)

  • “Hugo Almeida nos surpreende com a construção deste romance original [Vale das ameixas], tanto na forma quanto no conteúdo. Uma obra rara na cena contemporânea nacional e internacional e que certamente irá demandar alguma bagagem cultural prévia ou pesquisa complementar para o completo entendimento. Apesar da complexidade, uma leitura prazerosa e muito recomendada para todos que amam a vida e a arte, posso garantir.”

    Alexandre Kovacs, “um engenheiro que adora ler e acumular livros”. Blog Mundo de K.

  • “Já comecei a ler Vale das Ameixas, imersa nesse espaço e extasiada com o que nele vou encontrando. Pena que a realidade cruel do dia a dia me impeça de continuar a fruir infinitamente as delícias de sua escrita. Talvez essas interrupções sejam alertas para o difícil exercício do jogo entre afastamento e proximidade, necessários para que prazer e espírito crítico se conjuguem.”

    (Maria Heloísa Martins Dias, doutora em Literatura Portuguesa pela USP, professora na Unesp, autora de As distintas margens da escrita literária, O empinador de poemas e outros livros.)
  • “Empreguei meus sábado e domingo (28 e 29/12) para ler o seu A Voz dos Sinos.

    Em que pese ser um ensaio longo, foi uma leitura agradável, pois sua escrita mantém-se felizmente longe dos vícios do jargão acadêmico, que o jornalista Raimundo Pereira chamava de o “modo difícil de falar coisas simples”. Isso se deve, certamente, a seu ofício de romancista, que entrou como mediador entre a teoria e o leitor.

    Enquanto lia, lembrava do tempo em que, por um ano, fiz o curso da professora Sandra Nitrini, durante o doutorado na USP, o qual concluí com um ensaio sobre Avalovara. Esse ensaio, como outros muitos livros, ficou pelo caminho, mercê de minhas mudanças de endereço nos últimos três anos. Procurei-o entre os poucos objetos de minha exígua bagagem para Rio, mas, definitivamente, se perdeu.

    Seu ensaio é um roteiro excelente a quem deseje, sem ser especialista, ir além da leitura superficial da obra de Osman Lins. Um roteiro, mas também um mapa de temas, enigmas e motivos que permeiam os escritos desse autor, cuja importância mais cresce, quanto mais o tempo avança e pesquisas, como a sua, lhe vão engrossando a já alentada fortuna crítica.

    A lente panorâmica que empregou para o estudo não dispensou, em momentos oportunos, o mergulho mais fundo em alguns aspectos, sem jamais cometer a indelicadeza de revelar para o leitor os segredos que cabe a ele, e só a ele, desvendar no texto concreto de cada narrativa analisada.

    Esse discernimento de até onde deve ir o teórico de letras e a partir de onde passa a ser responsabilidade do leitor literário extrair juízos a partir de sua própria a leitura, mais do que um convite à visitação das obras de Osman Lins, é alerta oportuno de que a leitura de análises críticas, por melhor que sejam, não substitui jamais a leitura da obra em si.

    Assim, as referências que você faz, tanto às obras do autor analisado, quanto às fontes de intertextualidade dos textos dele, possibilitam ao leitor do ensaio o cotejamento e, por conseguinte, a oportunidade de, comparando um e outro, extrair seus próprios juízos.

    Disso resulta que suas análises se mostram flexíveis, pois não são peremptórias e abrem espaço à possibilidade de matização e mesmo objeção do leitor, livre para levantar suas próprias hipóteses concordantes, concordantes em parte e mesmo discordantes, a partir dos materiais que você oferece, sejam eles suas próprias reflexões, excertos da obra de Osman Lins, trechos bíblicos, ou ainda citações de pesquisadores e críticos.

    Obrigado pelo envio do volume que, verdadeiramente, coloriu minhas leituras deste dezembro de temperatura agradável e de vento constante na Cidade Maravilhosa.”


    (Jeosafá Fernandez Gonçalves, doutor em Letras pela USP, escritor e professor. Tem dezenas de livros publicados, entre eles O espelho de Machado de Assis em HQ, Poesia na Escola e O jovem Mandela.)
  • “O escritor Hugo Almeida tem uma das prosas mais elegantes da literatura brasileira contemporânea, um estilo refinado, eloquente, que aproveita todos os recursos da língua portuguesa para contar histórias cativantes. [Em Vale das ameixas] um homem revisita os territórios do passado: corpos, geografias, devaneios, cenários, um arsenal de provocações e o amparo da segurança.”


    (Whisner Fraga, escritor, editor na Sinete. Autor de vários livros, entre eles as fomes inaugurais, de minicontos, lançado em dezembro de 2024.)
  • “Em suma, em Vale das ameixas, seu romance recém-lançado, através de uma narrativa que prende o leitor da primeira até a última página, Hugo Almeida nos oferece uma profunda mensagem humana, uma sensível abordagem da condição humana, com a condenação de todas as formas assumidas pelo totalitarismo desde o século vinte, pela barbárie”.


    (Saul Kirschbaum é doutor em Letras pela USP, PPG Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas; Pós-doutor pela Unicamp; professor do Centro Cristão de Estudos Judaicos; pesquisador do Labô – Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo.)
  • [Em A voz dos sinos, Hugo Almeida] “recusa o academicismo estéril, ao assumir um diálogo profícuo com as obras do autor contempladas no livro e, acima de tudo, com o grande número de críticos e ensaístas que consagraram seu tempo a examinar a ficção de Osman Lins”.


    (Álvaro Cardoso Gomes, escritor, professor titular aposentado da Universidade de São Paulo, USP, autor de dezenas de livros, entre eles Memorial de Carolina, biografia romanceada de Carolina Maria de Jesus, publicado em 2024.)
  • “Acentuo, de saída, a própria escolha da figura central do Vale das ameixas, Harley, o Timo. Há densidade na construção por causa dos vários elementos que o compõem. Um imigrante polonês, que deixou seu país por causa da guerra e experimenta a vida idosa no Brasil, com todas as dificuldades e violências típicas desse país ‘acolhedor’, e a que ele insiste em manifestar apreço e afeto.

    Há muito o que se dizer dele. Por exemplo, o fato de ser professor de literatura. Essa característica se ajusta com precisão aos vários trechos em que se acentua uma linguagem marcada pelo erotismo, já que ele também é devotado às mulheres.

    Esses pontos todos abarcam enormemente aquilo que para mim é o cerne temático do romance: a autoria. ‘O que é um autor?’, parece soar essa pergunta do início ao fim. Dentre os inúmeros trechos em que isso fica explícito para mim é quando surge um conto [reescrito; veja as duas versões, de 1975 e 2024] de seu primeiro livro, Globo da morte, atribuído à personagem Laís.

    Nessa problemática da autoria, me chama a atenção ainda o ir e vir entre realidade e ficção. Por conhecer seu trabalho e dedicação aos livros de Osman Lins, salta rapidamente aos olhos não só a homenagem a ele, mas a densidade do diálogo – e aqui uso no sentido comum dado ao termo e ao conceito da teoria literária.  E por falar em homenagens, preciso mencionar que o ‘Disgreta’ de dona Benedita me soou como o ‘Nonada’ do Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.”


    (Robson Hasmann, professor de literatura, doutor em Letras pela USP e escritor.)