Citações para jovens escritores
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“O crime do padre Amaro é um romance naturalista ortodoxo, inclusive na facilidade de leitura, pois corresponde ao que há de mais visível em nosso modo de ser. Daí a naturalidade, que caracteriza também a escrita e nos faz sentir dentro do universo ficcional.”
(Antonio Candido, “Eça de Queiroz passado e presente”, O albatroz e o chinês.) -
“Quais são as leis que regem a formação das famílias de palavras? Com maior frequência, novos fenômenos ou objetos são designados em função de atributos que não lhes são essenciais, de modo que o nome não expressa a verdadeira natureza de coisa nomeada. Como um nome nunca é um conceito quando aparece pela primeira vez, em geral é, a um só tempo, muito limitado e muito amplo. Por exemplo, a palavra russa que designa vaca significava, inicialmente, ‘que tem chifres’, e a palavra rato significava ‘ladrão’. Mas uma vaca é muito mais do que chifres, assim como um rato não é apenas um ladrão; assim, seus nomes são demasiado limitados. Por outro lado, são amplos demais, uma vez que os mesmos epítetos podem ser aplicados – como de fato são, em algumas outras línguas – a um certo número de outras criaturas. O resultado é uma luta incessante, no âmbito da língua em desenvolvimento, entre o pensamento conceitual e o legado do pensamento primitivo por complexos. O nome criado por um complexo, com base em um atributo, entra em conflito com o conceito que passou a representar. Na luta entre o conceito e a imagem que deu origem ao nome, a imagem gradualmente desaparece; desaparece da consciência e da memória, e o significado original da palavra é finalmente obliterado. Anos atrás, toda tinta de escrever era preta, e a palavra russa para tinta refere-se a essa cor. Mas isso não impede que atualmente falemos do ‘negro’ vermelho, verde ou azul, sem perceber a incoerência da combinação.”
(L. S. Vigotski, Pensamento e linguagem.) -
“Raramente houve na literatura brasileira uma estreia tão madura como a de Alexandra d’Orsi, escritora pronta. Difícil acreditar, mas este surpreendente Dos meridianos de Eva é o seu primeiro livro. São contos de dor que cura a alma, textos por vezes aveludados, de aveludada ira, doces de inquieta e altiva feminilidade e, ao fundo, parecem soar os acordes de um violino, ora calmo, ora agitado, executado por um músico virtuoso. A música paira nos textos. E o tom poético, no ritmo, léxico e na sintaxe, modula todos os contos, com imagens, frases e palavras inusitadas. A autora vê sempre as coisas simples ou complexas por um ângulo artístico e cria palavras divertidas, como a que significa enorme. E este é um ponto fundamental: no seu texto não há lugar para o lugar-comum.”
(Hugo Almeida, no prefácio de Dos meridianos de Eva, que será lançado no próximo sábado, 25 de outubro de 2025, no Canto Madalena, R. Medeiros de Albuquerque, 471, em São Paulo, das 17 às 20 horas, juntamente com a nova edição de Mil corações solitários, de H.A.) -
“A palavra dos homens é o material mais duradouro. Se um poeta deu corpo à sua sensação passageira com as palavras mais apropriadas, aquela sensação vive através de séculos nessas palavras e é despertada novamente em cada leitor receptivo.”
(Arthur Schopenhauer, A arte de escrever.) -
“Apenas a partir da convicção da verdade e importância de nossos pensamentos surge o entusiasmo que é exigido para buscar sempre, com incansável perseverança, a expressão mais clara, mais bela e mais vigorosa – da mesma maneira que recipientes de prata e ouro são usados apenas para coisas sagradas ou obras de arte inestimáveis. É por isso que os antigos, cujos pensamentos formulados em suas próprias palavras já sobreviveram por milênios, e que merecem portanto o título honorífico de clássicos, escreveram com todo esmero. Dizem que Platão redigiu a introdução de sua República sete vezes, com diversas modificações.”
(Arthur Schopenhauer, A arte de escrever.) -
“Não há nada mais fácil do que escrever de tal maneira que ninguém entenda; em compensação, nada mais difícil do que expressar pensamentos significativos de modo que todos os compreendam. […] A primeira regra do bom estilo, uma regra que praticamente se basta sozinha, é que se tenha algo a dizer.”
(Arthur Schopenhauer, A arte de escrever.) -
“Uma das coisas mais difíceis é o primeiro parágrafo. Posso gastar muitos meses em um primeiro parágrafo, mas, quando eu o consigo, o resto vem com muita facilidade. No primeiro parágrafo você resolve a maior parte dos problemas do livro. O tema está definido, o estilo, o tom. Pelo menos no meu caso, o primeiro parágrafo é uma espécie de amostra do que vai ser o resto do livro. Por isso, escrever um livro de contos é muito mais difícil do que escrever um romance. Cada vez que você escreve um conto, tem de começar tudo outra vez.”
(Gabriel García Márquez, em Os escritores 2 – As históricas entrevistas da Paris Review.) -
“A celebridade é um plebeísmo. Fernando Pessoa. Deve ferir uma alma delicada. Gustav Janouch tinha dezessete anos e escrevia poemas quando conheceu o autor de A metamorfose. Em Conversas com Kafka, deixou registrada a aversão do escritor aos holofotes. Kafka parecia dizer Por favor, não tenho nenhuma importância. Você me daria uma grande alegria não me vendo.”
(H.A., Vale das ameixas.)