Citações para jovens escritores
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“Jamais atiramos a esmo, para o ar, sem saber por quê. Assim, quando você ouvir um autor falando em ‘inspiração’ e outras palavras gastas, desconfie dele. Também desconfie quando o ouvir afirmar que escreve para encher as horas. Torça a cara, dobre a esquina ou salte de lado quando souber que o livro foi escrito por um homem de alta posição. Porque ele deve estar atirando para cima. Ou contra você.”
(Osman Lins, Evangelho na taba.) -
“Não escrevi este livro ou qualquer outro inspirado pelos deuses. Custou-me dois anos e meio de interrogações, estudo e esforço.”
(Osman Lins, Guerra sem testemunhas.) -
“O ficcionista não disserta a respeito do que sabe ou pensa do universo: faz com que o contemplemos. Hipérboles do real, a recordação em Marcel Proust, as situações de Franz Kafka ou a factícia baleia de Melville ultrapassam a experiência do leitor, imerso numa realidade cuja natureza, ao invés de ser apenas entendida, penetra-o. O real, longe de ser negado, é por esse meio iluminado.”
(Osman Lins, Guerra sem testemunhas.) -
“A partir da leitura de A metamorfose, a literatura se tornou para mim uma coisa muito valiosa, muito especial. E Crime e castigo me ensinou, além da história gigantesca ali contada, que a leitura era a maneira mais barata de viajar. Lendo aquilo eu estava em plena Rússia, o livro coloca você dentro de um cortiço na Rússia. Ler era uma forma de sair de onde eu estava.”
(Francisco de Morais Mendes, História afetiva de leitores e bibliotecas em Belo Horizonte, org. Cleide Fernandes et alii.) -
“Toda obra literária essencialmente é uma procura. […] Romance, autobiografia, ensaio, não existe obra literária válida que não seja essa procura.”
(Simone de Beauvoir, citada por Osman Lins em Guerra sem testemunhas.) -
“A cada ponto
o traço inteiro
entrego
Na roca enredo
o meu xadrez
da troca.”
(Eliane Faccion [1949-2023], “Tecelã”, poema inédito.) -
“Antes de tudo, há dois tipos de escritores: aqueles que escrevem em função do assunto e os que escrevem por escrever. Os primeiros tiveram pensamentos, ou fizeram experiências, que lhes parecem dignos de ser comunicados; os outros precisam de dinheiro e por isso escrevem, só por dinheiro. […] Pois é como se uma maldição pesasse sobre o dinheiro: todo autor se torna um escritor ruim assim que escreve qualquer coisa em função do lucro. As melhores obras dos grandes homens são todas provenientes da época em que eles tinham de escrever ou sem ganhar nada, ou por honorários muito reduzidos. Nesse caso, confirma-se o provérbio espanhol: honra y provecho no caben em un saco [honra e proveito não cabem no mesmo saco].”
(Arthur Schopenhauer, “Sobre a escrita e o estilo”, em A arte de escrever.) -
“A de Virgínia Woolf é uma existência em que a escrita teve um papel decisivo. Ela o diz da seguinte forma: ‘Para mim, nada é real, a não ser quando escrevo’. Afirmação que não necessita de comentários, dada a nitidez com que Virginia reconhece à escrita sua função criadora e de verdade.”
(Nadia Fusini, Sou dona da minha alma: o segredo de Virginia Woolf.)